História da Academia de Letras e Artes
Meritiense
A
palavra academia teve ao longo da história, derivações de significados
diversos. Nasceu com Aristóteles
discípulo de Sócrates, magno filósofo do idealismo. O encontro de Platão
com Sócrates aos vinte anos de idade, lhe decidiu a vocação, fundou uma escola
e sabe-se que ensinava num belo bosque de oliveiras as margens do rio Cefiso,
outrora de propriedade do semideus
Academo, herói da Ática e nele sepultado.
Desse
fato originou-se a palavra Academia, primitivamente denominação
dessas reuniões. Dos mestres e discípulos ilustres “de onde, na dupla acepção
do vocábulo, as ideias constantes que representa, a do ensino e de reunião de
homens eminentes”.
Conforme
registro de filólogos, a palavra academia entrou em nosso idioma no século XV,
bem como acadêmico.
Hoje,
academia pode ser de dança, de ginástica, de ensino etc. Mas a acepção predominante diz de “associação intelectual,
sem finalidade docente”. As significações convivem de forma dinâmica, e o signo academia contrasta com a realidade (reuniões
de ensino), alcançando as diversas significações modernas.
As academias atraem. Constituem consagração,
reconhecimento, convívio amorável, apoio, supondo a existência no grupo social,
de um estatuto no qual o acadêmico compreendido como fonte e agente de
transformações, é capaz de ler no interior da realidade e interpretá-la no seu
discurso e nos bens simbólicos que produz.
É
com este intuito que em 1º julho de 1978, um grupo de cidadãos meritienses
reunidos na Rua Nossa Senhora das Graças, 506 – 1º andar, lança as bases para
modelar as conquistas culturais e sob a coordenação dos senhores Antonio de
Carvalho, Ney Garcia da Costa, Maria das Graças Gomes Neves, Celso Foli,
Alberto Jeremias da Silveira Menezes, Elza Gomes, Emanuel dos Santos Soares,
Silvio Goulart, Josias Moreira Nunes, Juarez Cosme da Silva, Ivo da Costa
Cavalcante, Delma Dias Gomes, Artur Alves Fialho, Acrisio Estevão Chiabai,
Giuseppe Tittoni e Gilberto da Silveira Menezes.
Deste
encontro foram feitas mais três reuniões preparatórias, realizadas nos meses de
julho a agosto e culminando com sua fundação em 26 de agosto daquele ano.
Tomou
posse naquele momento como Acadêmico Efetivo os senhores: Jornalista Abílio
Teixeira de Aguiar, Dr. Alberto Jeremias da Silveira Menezes, Prof. Artur Luiz
Alves Fialho, Dr. Emmanuel dos Santos Soares, Prof. Delma Dias Gomes, Prof.
Josias Moreira Nunes, Dr. Pedro Loureiro, Dr. Antonio Helio Ribeiro de
Oliveira, Jornalista Silvio Goulart, Prof. Wagner Cortaz, Prof. Ney Garcia da
Costa e Prof. Maria das Graças Gomes Neves.
A
estes idealistas, vieram juntar-se outros como Maria Lucia d’Avila Pizzolante,
Moysés Henrique dos Santos, Edson Vinhas da Silva, Carlos Ramos, Antonio
Rodrigues, Luiz Ivani de Amorim Araújo, Ivo Ramos de Mattos, Moacyr de
Carvalho, sendo considerado ainda fundadores os que assinaram a ata de
fundação.
A
primeira diretoria, para o período de 1978/1980, foi assim formada: Presidente:
Prof. Maria das Graças Gomes Neves; 1º Vice: Prof. Artur Fialho; 2º Vice: Jornalista Abílio Teixeira de
Aguiar; 1º Secretário: Dr. Antonio de Carvalho; 2º Secretario: Prof. Delma
Dias; 1º Tesoureiro: Prof. Ney Costa e 2º Tesoureiro: Ana Maria Miranda
Fonseca.
A
segunda diretoria eleita para o período 1980/82, ainda teve como presidente a
Prof. Maria das Graças e a diretoria para o período de 1983/84 e 1984/86 teve
como presidente o Prof. Moises Henrique.
Com
a doença e falecimento do Prof. Moysés a ALAM fica com suas atividades
paralisadas até maio de 1999 e por iniciativa do Dr. Antonio de Carvalho e do
Historiador Gênesis Torres a ALAM é reaberta.
Foram
convocados para este processo de reabertura os acadêmicos ainda em atividade e
a Prof. Maria das Graças reassumiu os trabalhos e em 29 de maio de 1999, com
grande animação, os acadêmicos elegeram uma diretoria provisória e
estabeleceram um cronograma que incluía admissão de novos membros acadêmicos em
sessão solene na comemoração ao 21º aniversário, dia 26 de agosto daquele ano.
Durante
os biênios 1999/2001 a Academia abriu 2 novos concursos para preencher as vagas
existentes, o que fez mudar o seu quadro de 11 para 27 membros acadêmicos,
contribuindo destarte para o desenvolvimento das Artes e da cultura de nossa
Cidade, valorizando e imortalizando a obra cultural de seus cidadãos.
Para
o biênio 2001/2007, a nova diretoria que assumiu sob a
presidência do Acadêmico Gênesis Pereira Torres, teve o compromisso de
continuar os trabalhos que sempre nortearam a vida da ALAM, desenvolvendo,
dinamizando e apoiando a vida Acadêmica, de forma que ela seja uma entidade
viva, orgânica e capaz de operar ao lado do desenvolvimento da cultura,
promovendo e incentivando a produção cultural, no campo das artes e das letras.
DISCURSO DO ACADÊMICO
GENESIS TORRES SOBRE OS 35 ANOS DA ALAM
DISCURSO DO ACADÊMICO
GENESIS TORRES SOBRE OS 35 ANOS DA ALAM
Saudações à mesa, aos homenageados e
aos
convidados
Senhores e senhoras
Os produtores dos diversos segmentos
culturais dessa cidade estão em estado de júbilo. A sociedade cultural
meritiense vive a atmosfera olímpica e tenta reproduzir a alegria que contagia
os homens que pensam uma sociedade cidadã. Fazem de cada momento como se fossem
os únicos de suas vidas.
Neste momento quero saudar com um
abraço afetuoso a cada um dos senhores e senhoras que aqui se encontram e que
ouviu e atendeu o nosso convite. O fato de estarem aqui já demonstram o carinho
que vocês têm para com a vida cultural e muito especial para com aqueles que
durante sua existência neste mundo vêm fazendo da arte a razão do viver.
Quero falar em nome da pintura, da
poesia, da literatura, do teatro, da música, da pesquisa, em fim, em nome das
artes. Essa manifestação que introjeta no homem a realidade externa, produz a
sensação nirvânica e a exterioriza em forma de arte, permitindo recriar a
realidade e fazendo avançar a consciência crítica do mundo.
Os diversos povos através dos tempos,
em estágios diferenciados procuraram em momentos de paz e de guerra,
representar o imaginário espiritual e real de forma que pudessem exprimir suas
alegrias e angustias. Nesta visão dialética e concepcionista, de uma realidade
nem sempre palpável e inteligível, o homem vem descobrindo a complexidade do
mundo em que vive. Isto permitiu ao Sócrates questionar as estruturas e duvidar
de sua capacidade inteligível em “só sei que nada sei”, fundamento básico do
reconhecimento de nossa ignorância diante do mundo, e a dois mil anos depois a
Descartes ovacionar a sua consciência palpável e afirmar que “penso, logo
existo”.
O
homem da cultura é um ser especial, pois, preside em cada um desses seres a
dúvida metódica e o reconhecimento de sua impotência diante do universo. Isto
faz de si, um ser incompreendido dentro de sua temporalidade, pelo pragmatismo
e objetividade que exige o mundo contemporâneo.
Este mundo reconhecido como “moderno” tem
pressa, é impaciente, busca sempre o poder e acelera cada vez mais o caos, e
este se manifesta nos conflitos sociais, na natureza e na contemplação do
criador, manifestada nas diversas crenças.
O homem da cultura é
sensível as mudanças na sociedade e preocupa-se permanentemente com elas,
assim, ele reproduz e recria dentro de seu ambiente de trabalho as diversas
realidades. É um questionador das estruturas sociais, econômicas, políticas e
religiosas.
Este homem satisfaz, é amado, enaltecido e
glorificado, mas também é odiado na luta permanente do poder pelo poder. Quando
seus interesses são questionados ou amesquinhados, ou não lhes agradam, eles não permanecem para mudar,
mas partem e numa atitude perversa, dividem e enfraquecem os objetivos maiores
da ação humana no aperfeiçoamento da ética.
Vivemos uma sociedade
livre, democrática e aberta. Estamos aqui porque queremos, avançamos porque
nossa vontade prevaleceu sobre a ignorância, somos únicos e nada é inigualável
a nossa consciência, somos a vontade do criador, representamos o universo e
nele nos inserimos como essência do fermento que multiplica e faz crescer os
limites da ordem divina.
Nada é imutável, os
impérios também têm seu ciclo vital. Roma com seu “mare nostrum” esfacelou-se
diante das hordas bárbaras, e o império se dividiu. Nasceu Bizâncio que deu lugar aos Turcos
Otomanos. O Sacro Império Romano Germânico não suportou o fracionamento do
feudalismo. O Império do Sol Nascente ruiu diante da Invencível Armada.
Napoleão foi vencido pelo general inverno. Bismark uniu os povos germânicos com
a política das alianças e acabou gerando a primeira guerra, recebeu castigos
humilhantes. Renasceu o nacionalismo exacerbado, abortou Hitler e o mundo
conheceu a carnificina, seu povo foi dividido por um muro. A política do Bick
Stick e do chicote recebeu o aviso na torre do Trade Center. Não há glória ou
tristeza que sempre dure, enfim tudo é mutável, é cíclico. Assim devemos
entender a sociedade humana.
Nestes 35 anos da ALAM
queremos render nossos eternos agradecimentos por fazer existir a Academia de
Letras e Artes Meritiense, a todos que colaboraram pela sua fundação, porém em
especial ao Dr. Antonio de Carvalho, ao Prof. Ney Costa, a Prof. Maria das
Graças, e todos aqueles que já partiram como Prof. Moisés Henrique, Abílio
Teixeira, Alberto Jeremias, Silvio Goulart e muitos outros.
Compreendamos e
entendamos assim, façamos desta vida uma vida de felicidade e a formula é
ditada não só pelos bens materiais, mas muito mais, pelos espirituais que somos
capazes de produzir.
Muito obrigado a todos.
Discurso
do Acadêmico Genesis Torres sobre os 29 anos da ALAM
Autoridades
Presentes
Meus
caros confrades
Meus
senhores e Minhas senhoras
Completa
a ALAM neste ano de 2007 29 anos, tempo suficiente para o amadurecimento como
instituição, tempo suficiente para a produção do reconhecimento e da
importância de suas ações perante a comunidade cultural da sociedade meritiense.
ALAM nasceu da ação e da vontade de cidadãos devotados à causa da cultura em
nossa cidade.
Nunca
é demais rememorar os nomes de seus fundadores, Dr. Antonio de Carvalho, Prof.
Ney Costa, Prof. Maria das Graças, Prof. Moisés Henrique, Jornalista Abílio
Teixeira, Dr. Alberto Jeremias, Jornalista Silvio Goulart, Prof. Josias
Moreira, e outros que não estão mais entre nós. Ao lado destes valorosos poetas, escritores e
artistas somaram outros que tem feito desta Academia uma instituição que tem
buscado a valoração das artes e das letras em terras meritiense.
A
ALAM nasce e se desenvolve em pleno regime de exceção, período em que a ditadura
não via com bons olhos àqueles que se devotavam pelo prazer das artes e da
literatura. O homem da cultura é
sensível às mudanças da sociedade e preocupa-se permanentemente com elas. É um
questionador das estruturas sociais, econômicas políticas e sociais.
Neste
sentido que papel cabe as academias de letras e artes?
Segundo
Prof. Josias em seus escritos ele nos diz que “academia significa a reunião de
pessoas que desenvolvem talentos e se esmeram na produção intelectual, na
literatura , nas artes plásticas, na música, no teatro, enfim, em toda
atividade que possa comprovar a criação intelectual”.
E
diz mais, assim é nossa Academia: “agremiação de intelectuais que efetivamente produzem
obras para a prosperidade, razão pela qual não pode ser confundida com outra
qualquer de cunho social, beneficiente ou político. Sua essência é a produção
de trabalhos intelectuais de poetas, escritores, autores teatrais, compositores
musicais, historiadores, artistas plásticos que, comprovadamente, submeteram
suas obras à apreciação da Assembléia dos Acadêmicos, tornando-se,
conseqüência, dignos da imortalidade. Porque imortalidade não é a exceção da
condenação física, e sim a perpetuação da obra de cada um. Não é uma homenagem;
é um reconhecimento da eternidade da obra efetiva de cada um”.
“Como
prova disso, quem é admitido nesta Casa é saudado por um acadêmico, seu
padrinho, que fala de sua vida e obra, numa peça escrita que passa a pertencer
aos arquivos da Academia. Depois, o acadêmico entrante, também em peça escrita,
discursa obre a vida e a obra de seu patrono da Academia. Recebe o diploma e a
medalha, que são símbolos de sua imortalidade. Assim é o ritual acadêmico”.
Quero
aproveitar a oportunidade deste aniversário para também lembrar de três
confrades que partiram desta vida, mas que deixaram entre nós uma obra
memorável no campo das letras. Tornaram-se imortais pelas suas obras e não
serão jamais esquecidos pelos seus confrades e pela sociedade meritiense.
Mario
Marinho dos Santos, ocupou a cadeira 15 pertencente ao poeta Jorge
Matheos de Lima. Tive a felicidade de ser seu padrinho ao entrar nesta Academia
e com ele conviver por alguns anos.
Assim como seu patrono Mario era um poeta de
escol. Meritiense de nascimento e tendo vivido sua arte para esta cidade e para
o mundo, pois, correspondia com Academias
de Trovadores não só do Brasil, mas de vários outros paises. Fez escola, criou
movimentos literários como o “Grupo Meriti Fazendo Arte” e introjetou na
sociedade o gosto pela trova, produzindo todos os anos no Centro Cultural
Meritiense Concursos de Trovas, onde sobressaia os temas sempre atuais como
ecologia, gênero, história e o cotidiano. Sua passagem entre nós não só deixou
saudades, mas acima de tudo sua obra e visão cultural jamais serão esquecidas.
Haroldo
Rodrigues de Castro, ocupou a cadeira 30 pertencente ao poeta Álvares
de Azevedo. Teve como padrinho o Poeta Mario Marinho, de quem eram grandes
amigos, compartilhavam da mesma arte, ambos tinham na poesia o prazer mundano.
Nasceu no Rio de Janeiro em 1936, tendo passado grande parte de sua vida em
Meriti. Haroldo foi descrito por Mario como um poeta das trovas, tendo sido
premiado em muitos concursos no Brasil e em Portugal. Publicou livros de poemas
e trovas. Seu falecimento deu-se em Magé no ano de 2004, deixando entre nós uma
lacuna entre os trovadores.
Cláudio
de Oliveira ocupou a cadeira 32 pertencente ao poeta Joaquim Manoel de
Macedo. Ao entrar na ALAM tive a satisfação de ser seu padrinho. Nilopolitano
de nascimento, viveu todos os acontecimentos sociais e culturais daquela
cidade, por sete décadas.
Advogado
e professor atuante tinha como princípio de vida a defesa permanente do
patrimônio histórico daquela cidade. Criou a Fundação Padre Matheus, o Museu
Histórico de Dados de Nilópolis, O Centro Cultural Nelson Abrão David e a
Biblioteca Júlio de Abreu. Restaurou a tricentenária Capela São Matheus. Foi um
memorialista cuidadoso com a história nilopolitana, tendo sido fundador e
diretor do Departamento do Patrimônio Histórico daquela cidade.
Ao
lado do Prof. Ruy Afrânio reativou quando vivos a Arcádia de Letras e Artes de
Nova Iguaçu. Prof. Cláudio foi um inconteste defensor das letras e das artes.
Sua obra e memória é um exemplo do quanto há de se fazer pela cultura
baixadense.
A
estes baluartes das artes e das letras, nossa lembrança e preservação destas
ações que enobrecem a cultura e as causas que abraçaram ao longo de suas vidas.
Caros
confrades, vamos produzindo nossas letras e nossas artes, dando as
contribuições para tornar esta sociedade
- não a dos “poetas mortos” mas daqueles que vivem, mesmo mortos, para
este mundo dos mortais, uma vida de prolongamentos após o seu passamento.
Muito
obrigado.
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